Carta da Saúde

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Centro de Saúde Rosália

Rosália realiza ação de vigilância à saúde e cidadania, cria oportunidade para que a comunidade se organize e reduz riscos à saúde

Desde o início de janeiro a Carta acompanha a atuação da Equipe do Centro de Saúde Rosália, junto aos moradores do Rosalia 4, onde a maioria dos moradores tem como pricipal atividade economica a coleta e separação de lixo para reciclagem.  A mobilização para melhorar as condições sanitárias do local e reduzir riscos à saúde envolveu outros serviços públicos e as comunidades da região. A equipe do Centro de Saúde realizou uma assembléia com a população, e entre outras propostas, estimulou a população a realizar um mutirão para reduzir a quantidade de lixo no local.

Para explicar o trabalho a “Carta” entrevistou Cláudia Carezzato, médica que coordena o Serviço. “Na nossa avaliação, o maior ganho estava sendo a mudança de postura que se viu naquela comunidade naquela manhã”, disse. Confira a entrevista:

Carta da Saúde – Cláudia, a Equipe de Saúde do Rosália realizou um importante trabalho de campo após a morte de uma pessoa com leptospirose, você pode contar aos leitores da “Carta da Saúde” como foi este trabalho?

Cláudia Carezzato: A região do Rosália 4 tem sido objeto de preocupação para a Equipe do CS Rosália há algum tempo. Trata-se de uma comunidade formada a partir da ocupação de um terreno, utilizado no passado como cemitério de animais e lixão, que por ser uma ocupação irregular, não recebe serviços de saneamento básico. Entre os moradores existem muitos trabalhadores informais, catadores de recicláveis que trabalham isoladamente e, por algum motivo, estão resistentes a participarem de cooperativas. O material coletado vinha sendo acumulado de forma inadequada na área em frente das casas, se estendendo para dentro das casas inclusive. O lixo doméstico e o resíduo do material coletado, também espalhado, contribuía para que a população de roedores de todos os tamanhos crescesse a olhos vistos no meio do lixo e dos recicláveis.

No início de janeiro, tivemos a notícia da morte de um morador do bairro, provavelmente por Leptospirose e a equipe sensibilizada, conhecendo a complexidade sócio-econômica daquela comunidade, decidiu buscar parcerias para desencadear um processo intersetorial que revertesse a situação de risco extremo a que essa população estava exposta.

Em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social Vila Reggio, chamamos uma reunião intersetorial urgente para discutir especialmente a situação do Rosália 4. Foram chamadas a Vigilância Sanitária, a Secretaria de Habitação, Transferência de Renda, Sub-prefeitura de Nova Aparecida e Macro-Região Norte. Essa reunião tirou como propostas de ação:

Um: Realizar uma assembléia no bairro para deixar claro para todos os moradores a relação que existe entre as condições de higiene ambiental e a Leptospirose.

Dois: Propor nessa assembléia, um Mutirão de Limpeza no bairro, a ser realizado pela população, em conjunto com os profissionais envolvidos no processo.

E três: Aproveitar a ocasião do Mutirão para realizar um cadastro de todos os moradores, contendo dados sobre as condições das moradias, o acesso a programas de transferência de renda e à rede socio-assistencial do território, além da quantidade de animais nas residências e nº de pessoas que trabalham com reciclagem.

Esse cadastro, já compilado, serviu de base para uma reunião com a comunidade, ocorrida no dia nove de fevereiro. A assembléia foi realizada cinco dias depois e contou com a participação expressiva dos moradores. As propostas de Mutirão e Cadastro foram aceitas e a assembléia serviu de espaço para reivindicações de melhorias urgentes. A população apontou a necessidade de se instalarem lixeiras elevadas para o lixo doméstico, o estabelecimento de uma rotina mais frequente para a passagem do  Cata Treco por lá, bem como para o caminhão de lixo comum.

Foi formada nessa assembléia uma comissão de representantes com seis moradores. No dia seguinte, conforme combinado, foi realizado o mutirão de limpeza (acompanhado pelo núcleo de comunicação que registrou todo a ação) , e para surpresa de todos nós, o processo desencadeado ultrapassou a questão da limpeza. Foi um momento de congraçamento da comunidade que demonstrou muita solidariedade e disposição à colaboração entre seus membros. O trabalho conjunto entre os moradores do bairro, os profissionais da vigilância, equipe do CS, promoveu um clima de confiança e estreitamento das relações. Ao final da manhã, tínhamos uma população com sorriso nos rostos, satisfeitos com o resultado alcançado. A limpeza havia sido realizada conforme planejada, exceto pela falta da máquina que resultou em alguns aglomerados de lixo.

A equipe do CS, também satisfeita com o trabalho realizado, percebendo que algo mágico estava acontecendo com aquela população, resolveu convidar seus representantes para a reunião de equipe que se realizaria no dia seguinte, com o objetivo de apresentá-los ao resto da equipe como representantes da comunidade e de se avaliar conjuntamente, o processo até então. Na nossa avaliação, o maior ganho estava sendo a mudança de postura que se viu naquela comunidade naquela manhã. Estavam se tornando protagonistas das mudanças…

Carta – Como foi a participação dos moradores na Reunião de Equipe do Rosália?

Cláudia: Em nossa reunião de equipe, apareceram não só os seis representantes, mas também outros membros da comunidade que quiseram participar da conversa. Chamava a atenção o contentamento de todos eles. Todas as falas apontavam para um novo momento que se descortinou a partir da assembléia e mais concretamente, do mutirão. As falas estavam recheadas de gratidão, esperança e desejo de mudança. Algumas lideranças despontadas no processo já começaram a se estabelecer enquanto tal. Ao final, marcamos uma nova reunião na semana seguinte em que levaríamos um documento com as reivindicações já elencadas na assembléia. Nossa intenção foi a de auxiliá-los no início desse processo de organização, com vistas a deixá-los alçar voo sozinhos o quanto antes.

Carta – Como está atualmente a situação destes moradores?

Cláudia: Cerca de 20 dias após o início do processo todo, temos uma nova paisagem. A rua antes atapetada de lixo, resíduos e recicláveis, está limpa. Os recicláveis foram levados pelos catadores para um terreno próximo e organizados. Agora estão se  mobilizando para colocarem uma cerca que impeça que o material seja levado pelo vento voltando a se espalhar.

Já estão falando em pedir para a sub-prefeitura passar a máquina que deixa o chão mais plano e mais bonito. Está havendo empenho dos moradores para que a nova condição seja mantida e estão fiscalizando e coibindo deslizes dos moradores mais descuidados. Com as casas limpas e o lixo para fora, passou a “máquina” para recolher o lixo e a equipe da zoonose esteve lá para iniciar o processo de desratização. Algumas lideranças estão se afirmando e se reuniram para discutir a compra de um conduite de maior bitola para melhorar o “gato” da eletricidade para todos…estão descobrindo a potência da organização.

Ao mesmo tempo… Outra ocupação que também nos preocupa muito, o Portelinha, foi visitada hoje por nossas agentes de saúde. Trata-se de uma rua apenas, com péssimas condições sanitárias.  Existe lá uma vala por onde corre material de esgoto trazido de outra região, a céu aberto… Hoje a vala transbordou e o esgoto se espalhou pela rua de fora a fora. Alguns moradores de lá, sabendo da intervenção no Rosália 4, pediram para que nós também ajudássemos o Portelinha!

Carta – Confirmaram-se quantos casos de leptospirose?

Até o momento, um caso confirmado.

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