Carta da Saúde

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Capacitação aborda sexualidade de adolescentes

 

Ana Cris, Fernando e Jo

Médicos e enfermeiros da Atenção Básica, profissionais da Rede de Saúde Mental e trabalhadores de outros serviços participaram em setembro de uma etapa de capacitação promovida pela Secretaria de Saúde para discutir sexualidade, contracepção, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (DST/Aids), identidade sexual, entre outros assuntos da adolescência.

A capacitação foi realizada dia 9, no campus três da FAC (Faculdade Comunitária de Campinas). A reportagem da “Carta da Saúde” foi recebida pela Ana Cristina Vangrelino  e Josiane Lippi do Programa de DST/Aids, e pelo Fernando Chacra, do Centro de Educação dos Trabalhadores em Saúde (Cets). Confira as respostas da Ana e do Fernando às perguntas da “Carta da Saúde”:

Carta da Saúde – Qual a expectativa com a realização desta capacitação (do dia nove de setembro) sobre sexualidade e temas afins como gravidez, contracepção, Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e identidade sexual na adolescência?

Ana Cris Vangrelino: A expectativa de nós técnicos do Programa Municipal de DST/Aids é de que a oferta dos conceitos – chaves  vulnerabilidades, sexualidades e juventudes, qualifique as ações de saúde e cuidado que a Rede Básica já desenvolve junto a adolescentes e jovens ampliando  as ações com a participação ativa das diferentes adolescências e juventudes em temas preciosos como equidade de gênero e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e à aids. Além disso a Rede Básica pode contar com o apoio e matriciamento do Programa Municipal de DST/Aids.

Fernando Cesar Chacra: O encontro do dia nove faz parte de uma série de dez encontros temáticos programados pelo Projeto de qualificação da Clínica e Cuidado ao Adolescente, que vem sendo realizado desde 10 de agosto de 2010. Trata-se de uma iniciativa da Câmara técnica da Área da Criança e do Adolescente em parceria com o Cets e com a Câmara Técnica de Saúde Mental. Tal projeto surgiu da necessidade de qualificar mais nossos profissionais para esta missão. Dele participam: 63 médicos (na maioria pediatras, mas também há a participação de ginecologistas, psiquiatras e médicos generalistas), 48 enfermeiros e 28 profissionais da Saúde Mental (na maioria, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos etc). O critério que norteou a escolha destes profissionais foi o de garantir a representatividade de pelo menos 2 profissionais (de categorias profissionais diferentes) de cada unidade básica de saúde e representação dos Caps-i (Centros de Atenção Psicossocial Infantil) e do Sada (Serviço de Atenção à Dificuldade de Aprendizagem), para tentarmos o desencadeamento de projetos em todos estes serviços. O encontro sobre sexualidade na adolescência foi o terceiro e ocorreu na FAC (Faculdade Comunitária de Campinas) dia nove de setembro, em dois períodos, pois temos profissionais contratados apenas para o período da manhã e para o período da tarde. O tema é bastante polêmico e gerador de muitas situações constrangedoras no dia a dia destes serviços de saúde, tais como: adolescentes querendo iniciar atividade sexual e não sabem bem a quem recorrer para uma vivência saudável e protegida, outros estão sofrendo com a pressão da sociedade no sentido da orientação sexual e identidade de gênero hegemônicas, outros não conseguem ser vistos como adolescentes e sim como pessoas portadoras de doenças crônicas, outros enfrentam a situação de gravidez, na maioria das vezes não planejada, enfretam equipes despreparadas para estes assuntos e muitas vezes também constrangida para atendê-los. Antes de iniciarmos o processo de planejamento do projeto, realizamos no Cets um grupo focal com pediatras de todos os distritos, que nos indicaram suas dificuldades e constrangimentos e nos ofereceram uma demanda de temas que precisariam ser melhor desenvolvidos: além da sexualidade, solicitaram discussões sobre o marco legal no atendimento ao adolescente (as questões sobre o sigilo, privacidade e direitos dos adolescentes como cidadãos que são), substâncias psicoativas, formas de abordagem (no consultório, em grupos, na escola,etc.), violência doméstica, transtornos alimentares (obesidade, anorexia, bulemia etc), queixas mais comuns (alterações da puberdade, problemas endócrinos, somatização, indicação de atividade física etc), escolaridade e trabalho.

Carta – Como vocês avaliam a participação do público desta capacitação?

Ana Cris: O público foi receptivo às ofertas apresentadas. Porém, mais do que apresentar respostas prontas, nosso interesse é problematizar, mobilizar os trabalhadores de saúde a pensar sobre suas concepções e posturas diante das adolescências e juventudes

Fernando: A participação tem sido intensa e crescente, porém ainda está aquém da que esperávamos. Temos tido algumas dificuldades com os tempos das falas, o que dificulta uma comunicação mais intensa nos momentos de troca. Queremos tentar solucionar um pouco esta questão criando em boa parte dos encontros momentos de discussão em grupos menores, pois são cerca de 130 a 150 pessoas no total, distribuídas em duas grandes turmas (terça à tarde e quinta de manhã, quinzenalmente). Outra estratégia de comunicação se faz através de um grupo que inclui apoiadores da área da criança e do adolescente e também da saúde mental e de facilitadores, profissionais da rede, que acompanham todo o processo e sentam semanalmente para planejar as atividades dos encontros temáticos e dos encontros de rede. Estes são encontros mensais que já vêem ocorrendo há mais de um mês e que atualmente está acompanhando o projeto de qualificação da clínica e do cuidado ao adolescente. Nestes encontros de rede tentarmos reconhecer o que há de interessante já ocorrendo em Campinas em termos de intersetorialidade com a Educação, com a Cultura, com a Assistência social e com as ONGs que aqui desenvolvem projetos com jovens e adolescentes. Estes encontros que chamamos de encontros de rede para diferenciá-los dos encontros temáticos o correm mensalmente nas últimas terças-feiras à tarde de cada mês. Este ano serão quatro e cada um está planejado para apresentar os esforços de ações intersetoriais com cada uma destas grandes áreas parceiras. Em 31 de agosto tivemos um sobre a intersetorialidade saúde e educação e o próximo será dia 28 de setembro para discutirmos mais os desafios intersetoriais com a Cultura. Para o próximo ano, creio que este start poderá contribuir muito para novos projetos. Assim esperamos.

Carta – O número de participantes ficou dentro do esperado?

Fernando: Neste encontro do dia nove, à tarde, o número de participantes foi menor do que esperávamos (vieram 42 dos 70 que esperávamos), porém no período da manhã foi acima das expectativas (78 participantes).  No geral os encontros estão com uma média de 65 participantes em cada turma. Nos encontros de rede, tivemos a presença de mais de 100 participantes. Ou seja, é nítido o desejo de se qualificar melhor e discutir temas tão importantes como estes.

Carta – Quais outras ações serão desenvolvidas no processo educativo em curso? É possível citar alguns exemplos de ações que serão realizadas nos Serviços que participaram da capacitação?

Ana Cris: Na rede existem projetos em andamento desenvolvidos pelo Centro de Referencia em DST/Aids , pelos Centros de Saúde e parceiros em seus territórios, e ainda  a formação para profissionais de saúde, professores, técnicos dos centros de referencia de assistência social (Cras) desenvolvido pelo CEDAP que é o “Falando pra Galera” que durante os meses de setembro e outubro realizará junto com os participantes da formação e os adolescentes das comunidades encontros para conversar sobre temas de interesse dos adolescentes e entre estes sexualidade e saúde. Mas sabemos que ainda precisamos mapear melhor as diversas ações desenvolvidas para ter uma dimensão dos efeitos das formações, o que se tem produzido ao longo do tempo e o que ainda precisa avançar nas políticas de saúde integral para o adolescente e jovem.

Fernando: Nos encontros temáticos, procuramos sempre trazer algum convidado que desencadeie a reflexão sobre os temas e também profissionais que estejam desenvolvendo importantes ações no cotidiano de Campinas. Neste encontro sobre Sexualidade foi tão importante a participação da Professora Maria Ignez Saito, da USP, quanto a participação da Josiane (Josiane Lippi, psicóloga do Núcleo de Redução de Danos do Programa de DSTs e Aids) e da Ana Cristina (Ana Cristina Vangrelino do Núcleo de Educação e Comunicação Social do Programa de Aids), como também a da Lívia, do Cedap (Centro de Educação e Assessoria Popular), que há mais de dez anos realiza parcerias nesta área com as secretarias de Saúde e Educação de Campinas. Além dos dez encontros temáticos e dos quatro de rede, estamos estimulando através de roteiros de orientação para que os profissionais participantes desencadeiem projetos de parcerias sobre o cuidado ao Adolescente em suas unidades, de forma ampliada, tanto com os Centros de Referência e ONGs, mas também entre si, unidades de saúde próximas.

Carta – Qual foi a contribuição do Programa de DSTs e Aids de Campinas e da ONG Cedap neste encontro a que os profissionais vieram para um momento educativo?

Ana Cris: Foi um momento de troca e de integrar ações entre os serviços do SUS Campinas, contribuindo para o fortalecimento das políticas públicas de saúde para adolescentes e jovens.

Fernando: A contribuição foi muito grande tanto no sentido de complementar a primeira explanação mais geral da doutora Maria Ignês Saito, como também para apresentar formas diferentes de se cuidar do direito que adolescentes e jovens têm de iniciar sua sexualidade da maneira mais saudável possível, de fazerem suas escolhas com relação ao momento de ter filhos ou não e também fazerem suas escolhas de identidades de gênero e orientações sexuais que lhe dêem mais prazer. Nosso papel é superar preconceitos pessoais e ajudar que companheiros de equipe também as superem, sempre lembrando que nossa principal tarefa ou missão é cuidar das vulnerabilidades e contribuir sempre, com todos os recursos possíveis, para aumentar a resiliência de todos.

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